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A história do mangá

Olhos arregalados, lágrimas em cachoeira e cabelos pontudos são características dos quadrinhos japoneses

Fernanda Guerra
São José dos Campos

Olhos arregalados, cabelos pontudos, lágrimas em cachoeira, mascotes fofíssimos. Os mangás são inconfundíveis e configuram um capítulo a parte na história dos quadrinhos.

Pokémon, Dragon Ball, Cavaleiros do Zodíaco, Yu Yu Hakusho, mesmo quem não é fã de quadrinhos já ouviu falar nesses personagens. E não é para menos: os quadrinhos japoseneses são os que mais crescem no mundo de hoje e são responsáveis pelo desenvolvimento de uma verdadeira indústria que inclui os animês (desenhos animados), games, anisongs (música-temas de desenhos e mangás) e filmes para o cinema.

Apesar dessa recente invasão no mundo ocidental, os mangás têm suas raízes fincadas em um passado remoto do Japão. Já entre os séculos 6 e 7, pergaminhos apresentavam animais em situações humanas -- considerados os bisavós dos mascotes nos mangás de hoje.

FUSÃO - A própria palavra mangá não é nova: união de dois ideogramas japoneses "Man" (irrisório) e "Ga" (imagem), o termo foi cunhado pelo desenhista Katsuhika Hokusai em 1914 para definir cartoons, caricaturas e impressos de histórias em quadrinhos.

Mas foi apenas nos anos 50 que o termo mangá e as histórias japonesas passaram a significar um estilo único entre os quadrinhos. Considerado o deus do mangá, Osamu Tezuka -- criador de Menino Atômico e Kimba, O Leão Branco -- revolucionou as HQs japonesas ao criar uma nova forma de narrativa, que usava ângulos inovadores, ritmo cinematográfico e uma nova característica para transmitir as emoções de seus personagnes em toda sua complexidade: os grandes olhos arregalados.

"Nos mangás, tudo pode ser dito com um olhar. Eles são os principais veículos das emoções dos personagens. Mas ao contrário do que muita gente pensa, também existem mangás com olhos pequenos. Hoje cada vez mais os autores imprimem seu próprio estilo às histórias", disse Açunciara Aizawa Silva, professora de mangá da escola de desenho Ateliê, de São Paulo.

Ela explicou que no Japão os mangás são subdivididos por faixa etária e gênero, em uma classificação que engloba inúmeros nomes específicos.

"Os principais são o Shonen Mangá, que é o mangá para meninos, e o Shojo Mangá, que é para meninas. A diferença é o Shonen tem mais ação e o Shojo tem mais romance".

Como exemplo de mangás para menino, Açunciara cita Pokémon, Dragon Ball, Yo Yo Hakusho e para meninas, Sailor Moon. "Mas no Brasil essa divisão não existe muito. Quem gosta de mangá acaba lendo tudo mesmo".

CAVALEIROS DO ZODÍACO - No Brasil, os primeiros mangás eram publicados informalmente em fanzines e atingiam um público muito restrito.

Segundo Cristiano Seixas, diretor do estúdio de criação e da escola Casa dos Quadrinhos, de São Paulo, foi no final da década de 80 que os primeiros mangás mais representativos chegaram ao país. "Lobo Solitário, que conta a história de um samurai que vaga com seu pequeno filho depois de brigar com seu chefe é um clássico e foi um dos primeiros, junto com Akira, a serem publicados no país".

Mas foi um desenho, ou melhor, um animê -- que abriu as portas definitivamente para a invasão dos quadrinhos japoneses no Brasil: os Cavaleiros do Zodíaco. Exibido há cerca de 10 anos nas TVs brasileiras, eles foram responsáveis pelo crescente interesse nos mangás, que teve um boom há cerca de 5 anos com a chegada de diversos títulos no mercado do país.

CLICHÊS - Com linguagem, personagens e narrativa próprias, os mangás conquistam cada vez mais adeptos no ocidente, mas ainda são cercados de muitos mitos e clichês.

Para Rogério de Campos, sócio-proprietário e diretor editorial da Conrad -- editora que publica nove títulos de mangás, como Pokémon, Cavaleiros do Zodíaco e Dragon Ball -- parte do público que não acompanha os mangás tem uma visão preconceituosa sobre a produção japonesa.

"Existe um clichê de que os mangás são violentos, o que não é verdade. Ao contrário dos quadrinhos ocidentais, que se baseiam em lutas, tiros e explosões, os japoneses, mesmo os de ação podem ter vários episódios sem uma luta sequer", afirmou.

Segundo Campos, os mangás estão promovendo uma verdadeira revolução no mundo dos quadrinhos ocidentais.

"O mercado de quadrinhos no ocidente estava em queda e os mangás estão ajudando a reverter esse quadro. Os mangás trouxeram as mulheres para o mercado de HQ e abriu as portas para a exploração de temas variados, e não focado basicamente no herói, como no ocidente".

Para Marcelo Del Greco, editor da JBC -- que já publicou mais de 20 títulos de mangá -- os mangás têm ainda mais atrativos para os brasileiros.

"A estrutura em episódios é semelhante a das novelas. Além disso, o brasileiro tem uma empatia natural pelo traço dos mangás".

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